Gostaria de saber um pouco mais sobre Banshee - Os Guardiões? Então dá uma espiadinha no primeiro capítulo:
"Os primeiros raios de sol iluminavam a mansão. Brianna desativou o despertador; já estava de olhos bem abertos muito antes de ele começar a soar. Ela suspirou, a cabeça doía. Levantou-se lentamente, apoiando-se pesadamente no colchão, passou a mão nos cabelos e respirou fundo. Segurou os longos fios escuros e enrolou-os em um nó. A noite havia sido péssima.
Ela entrou no banheiro iluminado. Era grande, os azulejos largos e brancos ajudavam a clarear o ambiente. Acima da pia um espelho retangular. O balcão estava cheio de cremes e perfumes. Ela olhou-se no espelho: a imagem não era das melhores, os olhos fundos denunciavam a ausência de descanso. Encheu a banheira, abriu as cortinas e entornou na mesma alguns sais de banho que estavam na borda, enquanrto observava o líquido subir.
Brianna entrou na banheira, a água estava morna, ela esperava poder colocar sua mente em ordem ali dentro, mas a culpa caiu novamente sobre sua cabeça. Agora estava realmente triste, não deveria ter falado daquele jeito.
– O que foi que eu fiz? – ela se perguntou, chateada.
Fechou os olhos. A briga da noite passada passava como um filme por seus olhos.
– Nada. Não acredito! Não pode ser! – disse Brianna em voz alta, enquanto dava um murro na mesa.
Cleona preparava o jantar e olhava-a de relance.
A moça estava sentada em frente ao laptop, à cabeceira da mesa de frente para ela. A tutora não gostava quando Brianna usava coques. “Com os cabelos soltos você parece muito mais doce”, dizia a mulher sempre. Mas lá estava ela, em seu coque, olhando a tela irritada e apertando os dentes, deixando suas feições duras. Assim ela parecia tão forte, tão sensual, tão mulher. Talvez Iollan tivesse razão, ela tinha mesmo que descobrir a verdade o quanto antes. Mas embora Cleona soubesse da importância de Brianna, o seu egoísmo pessoal impedia-a de contar o que ela já deveria saber há muito tempo.
A impaciência da moça tirou Cleona de seus pensamentos. Ela balançava a perna velozmente, indicando o nervosismo excessivo.
– O que tanto você procura, minha flor? – perguntou a mulher calmamente, mexendo o molho na panela.
– O de sempre. – respondeu Brianna, seca. – A mim mesma.
Cleona virou-se para ela, botou uma mão na cintura e com a outra apoiou-se no balcão atrás de si.
– Não entendi. – disse a mulher, confusa e preocupada.
Brianna respirou fundo e mirou Cleona.
– Há tempos atrás… eu fui a um detetive particular – disse, em desabafo.
– Você o quê?! – perguntou Iollan, entrando na cozinha pela porta do jardim. Seus olhos fuzilaram Cleona. – Por quê?!
– Porque durante toda a minha vida eu venho perguntando a vocês sobre mim!
Brianna falava clara e pausadamente. Estava cansada e triste, como se aquela procura por si mesma estivesse sugando todas as suas energias.
– Ninguém me explica. Por anos eu aceitei todas as suas desculpas… Mas, se vocês não perceberam, eu não sou mais uma criança, não desejo mais ter pais heróis, quero a verdade, seja lá o que for. A ausência de uma identidade me incomoda. Por isso eu decidi procurar um profissional, alguém que me ajudasse a encontrar algo sobre mim, algo que vocês sabem e me escondem! Alguém que me ajude a descobrir o porquê de eu ser tão rica já me aliviaria muito. Mas... ele não encontrou nada. Absolutamente nada! Miraculosamente eu não me encaixo em nenhuma árvore genealógica do meu sobrenome. Não há primos, tios, avós… Ninguém! Mas, como eu, por motivos óbvios, já imaginava, eu não nasci na Irlanda.
– Como assim? – perguntou Cleona, demonstrando surpresa.
Brianna perdeu a paciência.
– Olhe para mim! – ela apontou para o cabelo, os olhos e a cor de pele em gestos, que, se não fossem em um momento crítico, seriam cômicos.
– Você tem a pele clara…
– Eu sou morena.
– Morena clara…
– Cleona!
– Você pode ser uma mistura, hoje em dia todo mundo é misturado!
– Já chequei. Depois disso eu mandei fazer uma busca na América do Sul. Só respostas negativas até agora. Me sobra ainda o sul da Europa… Mas isso pode demorar anos! Claro, isso considerando cor da pele e situações mais lógicas, porque eu posso ter vindo de qualquer lugar! E é humanamente impossível que eu não tenha nenhum parente, nem hoje nem ontem!
Como os meus pais desapareceram no ar? Me diz... Onde está a tumba deles? Eu nem sei em que cemitério eles foram enterrados! Eu começo a me perguntar se há algo de errado com eles. Se foram traficantes, ou quem sabe nem morreram! Me abandonaram simplesmente!
– Brianna, não é assim tão simples… – disse Cleona tentando explicar, já extremamente nervosa. O cerco se fechava.
– Ah, não? – Brianna levantou-se. – Então me diga! Porque vocês são as únicas pessoas no mundo inteiro que podem me esclarecer essa história!
– Eu…
– Vamos lá, Cleona, fale! Eu não sei o porquê disso tudo! Você está vendo que essa coisa toda me destrói e não me diz nada!
– Já disse… eu conheci sua mãe… ficamos amigas… Tudo aconteceu muito rápido!
– Está vendo! É disso que eu estou falando! Você só usa essas palavras vazias, soltas no ar. Agora eu já nem sei mais! O que houve?! Eu fui seqüestrada, é isso? Você me pegou em algum lugar quando eu ainda era um bebê e existe uma mãe lá fora procurando pela filha desaparecida?
– Páre com isso! – dizia Cleona aos prantos. – Eu só queria te proteger!
– Me proteger de quê? O que pode ser mais cruel do que essa falta de informação? Se eu posso confiar em você, me fale a verdade!
Cleona sentou-se em uma cadeira, pôs o rosto entre as mãos e começou a chorar. Os soluços soavam alto.
Brianna olhou para Iollan, que assistira a tudo sem nada dizer, ele manteve-se calado, ignorando seu olhar sedento por respostas. Ela saiu enfurecida para o quarto.
– Eu poderia ter te defendido, mas você mereceu. Eu sei o quanto você a ama, mas você mereceu.
Brianna estava arrasada. Levantou. Saiu da banheira desanimada, secou-se e vestiu um roupão branco. Desceu. A escada a levaria a um saguão. O enorme lustre de cristal no hall não deixava dúvidas quanto à posição social daquela “menina”.
A entrada da cozinha ficava embaixo da escada. Caminhou até lá, onde certamente encontraria seus tutores: Cleona e Iollan.
Brianna era órfã desde que podia se lembrar, e sempre teve os dois empregados como sua família; por isso a briga com a mulher a machucara tanto.
A cozinha espaçosa era moderna, e tinha uma porta que levava ao jardim.
Cleona preparava chá de erva doce, que a moça tanto gostava.
– Que horror! – exclamou Cleona ao ver a outra entrar na cozinha, evitando olha-la nos olhos. – Parece um fantasma!
– Obrigada, agora me sinto bem melhor. – respondeu Brianna, com o humor que lhe era peculiar, buscando coragem para tocar novamente no assunto da noite anterior.
Iollan entrou na cozinha pela porta do jardim.
– Minha querida… Você está com cara de quem viu o
monstro do armário! – disse ele, tentando amenizar o clima na cozinha.
Brianna deu um sorriso amarelo.
– É incrível a capacidade que vocês têm de fazer com que eu me anime! – andou até a geladeira, abriu-a, pegou uma maçã e mordeu.
Brianna encostou na porta da geladeira e pousou seu olhar sobre Cleona. A mulher não a fitara em nenhum momento, Brianna estava incomodada e resolveu falar.
– Você chorou a noite toda, não é mesmo?
Cleona nada disse.
– Cleona… Eu… Eu sinto muito. Não queria te machucar. Você tem sido minha mãe por todo esse tempo... – Brianna estava com os olhos cheios d’água. – Mas eu me sinto perdida. A minha vida é tão vazia. O que eu estou fazendo é absolutamente normal. Eu quero ser uma pessoa segura. Você sabe que eu vivo entre realidade e fantasia, lutando para que as minhas alucinações não me levem o juízo.
– Você anda sonhando novamente? – perguntou Iollan, lançando um olhar indignado para Cleona.
Brianna suspirou.
– Às vezes. Eles não mudam, eu não sei mais o que fazer. Eu já não sei quando estou dormindo ou acordada. Tento me livrar dessas coisas, ocupar a minha mente. Tomo os meus remédios regularmente…
– Você ainda toma? – perguntou Iollan cortando-a. – Eu ja falei…
– É, eu sei… mas o Dr. Ackman me disse que eu estava fazendo grandes progressos. Por causa dos medicamentos eu não tenho sonhado com tanta freqüencia... – ela fez uma pausa. – O que eu quero dizer com tudo isso é que acredito que o meu problema é a minha identidade, ou a falta dela. Tenho certeza que a ausência do meu passado influencía. Se eu soubesse da minha história, quem os meus pais foram seria tudo diferente. Sei que eu posso lutar contra essa doença!
– Nunca mais use essa palavra, Brianna! – disse Iollan, não contendo a pena. – Você não tem nada.
Os olhos de Brianna brilharam com as lágrimas que trazia presas.
A jovem caminhou entristecida até a porta do jardim, respirou fundo e olhou para o céu.
– Por que é que não chove hoje? Eu precisava tanto que chovesse... – ela fixou o olhar no azul acima de sua cabeça, pareceu entrar em transe.
– Namtú Êntí! – disse ela sem perceber.
Voltou e sentou-se em uma cadeira.
– Eu não quero mais ver essas criaturas estranhas. Eu não quero que elas povoem a minha cabeça. Eu quero ficar bem! – Brianna demonstrava fraqueza e imenso pesar. Cleona evitava o olhar de Iollan. Um barulho vindo do céu cortou o silêncio. O trovão veio inesperadamente. – É chuva! – disse Brianna sorrindo. – Inacreditável!
A chuva caiu pesada, Brianna pegou o chá e correu para o telefone.
– Até quando ela vai ficar controlando as coisas? – perguntou Cleona.
Iollan balançou a cabeça negativamente para ela.
Brianna subia a escadaria com o telefone sem fio na mão.
– Alô? Anelise? Brianna. Você viu que chuva? Aquela aula ao ar livre com certeza não vai rolar. Tô ligando pra dizer que não vou à Universidade. Não, não tenho pesquisas pra fazer. Certo. Tchau.
– Você entende agora? – disse Iollan irritado, quase num sussuro.
Cleona debruçou-se na pia.
– É isso que você quer? Que ela continue a achar que é doente? Ou, melhor ainda... – disse ele, com sarcasmo – Que ela acabe se perdendo em uma dessas viagens mentais e nunca mais volte? Você ainda se lembra do que aconteceu há um mês?
A mulher estava calada, mergulhada em pensamentos. Claro que ela se lembrava. Aliás, jamais se esqueceria:"